Eu fico mesmo é com o Rock-n-Roll
 Por mais que em muitos casos se pareça óbvia a resposta, a realidade mesmo é que é quase impossível apontar o que de fato é um tipo de música melhor que outro. Existe fã-clube para tudo neste mundo e deus nenhum para aparecer e comprovar porra nenhuma.

Podem achar milhões de argumentos para explicar o porquê de uma canção ser melhor que a outra, no fim das contas será sempre mais alguém tentando defender seu gosto pessoal contra um outro gosto qualquer? Pois aí que mora o perigo.

Se você tem um pensamento crítico e questiona o outro, logo dizem que você não é humilde e se critica alguém da sua área então... é fogueira na certa, você quer criar confusão, você não respeita o artista nacional.

Vivemos em um país que se orgulha de sua total falta de opinião, de seu silêncio infantil e perigoso diante das coisas. Melhor ainda é o marasmo das frases feitas, dos clichês elogiosos... Bom mesmo é assistir a tudo esperando que a divina providência nos salve porque todo mundo sabe que Deus é brasileiro e tudo dá certo para nós.

Desde que os modernistas comeram com garfo e faca a genuína “arte nacional” já sabemos que a única maneira de se fazer um país melhor, através da arte ou não, é sabendo de tudo, observando deste tudo um pouco e fazendo o melhor. (e ponto!)

Eu amo meu país, mas não defendo superioridade nacional nenhuma. Não acho que o samba é sagrado e nem que não se deve macular a santa bossa nova. Não defendo a pureza da canção nacional contra a invasão estrangeira.

Eu curto o samba, mas fico mesmo é com o Rock-n-Roll e nem por isso sou menos brasileiro.
Existe em toda música gravada na história uma intenção, um teor, uma diferença poética e misteriosa que faz ela ser boa ou ruim. Para mim, a música para ser boa deve conter uma intenção subjetiva, seja ela qual for, é um certo Rock-n-Roll que mora nas grandes canções, independentemente de sua natureza, do seu tema ou da sua idade. E pronto.
Quem entendeu, entendeu. E quem não entendeu... entendeu também!

Junior Bubys

Não à massificação da arte *

Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo”
Fernando Pessoa.

Os versos acima servem bem para explicar o que é arte. Os artistas conseguem reunir duas ações que parecem separadas, o ETERNO (que está fora do tempo, imutável) e o NOVO (que está no tempo e sempre em mudança). A união do eterno e do novo exprime a arte como criação, desvenda o sentido eterno do mundo por meio de obras sempre novas. As obras de arte nos abrem acesso ao verdadeiro, ao sublime, ao terrível, ao belo, à dor e ao prazer. A arte inventa um mundo de cores, formas, volumes, palavras, para fazer conhecer nosso próprio mundo através do artista, e ao fazê-lo, leva-nos descobrir o sentido da Cultura e da História.
Desta forma, as obras de arte e pensamento deveriam ser direito de todos e não privilégio de alguns, todos deveriam ter acesso à fruição das obras culturais, direito à informação e à formação cultural, pois assim poderíamos conhecê-las, criticá-las e incorporá-las em nossas vidas e os artistas e pensadores poderiam superá-las com novas idéias.
Porém, a exemplo de tudo o que há no capitalismo, a obra de arte é tratada como mercadoria e valorizada segundo critérios que estão na moda. A arte na se democratizou, ela se massificou para o consumo rápido do mercado e dos meios de comunicação, transformando-se em propaganda. Arte hoje é muitas vezes vista como forma de controle ideológico.
A “indústria cultural” torna invisível a realidade e o próprio trabalho do criador das obras; é algo para ser consumido e não para ser fruído e superado por novas obras. Além disso, cria-se a ilusão de que todos têm acesso aos mesmos bens culturais como um consumidor de supermercado, mas não é bem assim, pelo preço da “mercadoria cultural” podemos perceber que as empresas de divulgação selecionam previamente o que cada grupo social deve consumir, provocando a divisão social entre elite “culta” (que consome obras “raras”) e massa “inculta” (que consome obras comuns”).
 E o que é massa? É um agregado sem forma, sem rosto, sem identidade e direito pleno ás manifestações culturais.

Junior Bubys

The Velvet Underground: A música da Pop Art

Chamamos de underground todo e qualquer tipo de manifestação artístico-cultural que não siga as tendências estabelecidas em sua época. Pode-se dizer que a palavra underground tomou sentido a partir do lançamento do disco "The Velvet Underground and Nico" de 1967.

A banda The Velvet Underground passou longe da pretensão de rock stars, não veneravam a cultura massificada contemporânea, em uma época que o rock tentava ser a voz de uma geração. Suas letras eram realistas, totalmente diferente do que existia na música dos anos 60, na onda hippie das drogas alucinógenas, viagens psicodélicas e pregação de paz e amor. O Velvet Underground (nome este que foi tirado de uma revista pornô sadomasoquista) transgrediu regras antes mesmo delas serem criadas.

Tudo começou quando Lou Reed (guitarrista, vocalista e compositor influenciado por romancistas como William Burroughs, Hubert Selby Jr. e Raymond Chandler) conheceu John Calle (baixista, pianista e violinista de formação erudita e altamente influenciado por sons experimentais). Os dois começaram a tocar na rua, logo Sterlig Morrison entrou como guitarrista e mais tarde Maureen Tucker juntou-se ao grupo como baterista. 

Em uma de suas apresentações, quando se encontrava no estabelecimento o patrono da Pop Art, o artista plástico Andy Warhol, o grupo foi expulso e despedido pelo empresário porque tocaram "Black Angel's Death Song". Esta canção era estranha para a época, influenciada pelo virtuosismo estranho de Calle, sendo usado pela primeira vez uma viola elétrica por uma banda de rock.

No meio da apresentação o empresário subiu no palco e ordenou que eles nunca mais tocassem aquela música. Em resposta, a banda repetiu a canção. Andy Warhol gostou do que viu e ouviu e ofereceu ao Velvet uma parceria com seu grupo artístico, o The Factory, no qual, ao lado de diversos artistas marginais, ele produzia filmes, peças de teatro, exposições e música.

Warhol propunha demonstrar a crise da arte que assolava o século 20 e demonstrava em suas obras a massificação da cultura popular capitalista. Seu estúdio em Nova York era freqüentado por pessoas ricas e também por artistas marginais. Warhol ficou encantado com a forma que Lou Reed narrava a ingenuidade e sinceridade das pessoas sofredoras, a crueldade da vida nas ruas, o desemprego, a vida das prostitutas, dos viciados, travestis, traficantes, sadomasoquistas e todo tipo de gente que vivia na obscuridade.

Warhol incluiu no grupo a modelo e atriz Nico. Juntos lançaram o disco "The Velvet Underground and Nico", que não teve uma repercussão muito boa. O público não entendeu a musicalidade incomum da banda, o conteúdo lírico e a estranha capa no estilo Pop Art feita por Warhol, com o desenho de uma banana.

 Porém, hoje, este disco é referência a toda banda que se dedica ao experimentalismo e a todos que se interessam pelo movimento da Pop Art, sendo esta uma das bandas mais influentes do século 20.
 Junior Bubys

The Stooges: rock simples e original

Era final dos anos 60 quando o baterista James Jewel Osterburg cansou-se de sua vidinha metódica no interior dos EUA. Buscando satisfação mudou-se para Detroit e passou a se chamar Iggy Pop. Abandonou as baquetas e junto dos seus amigos junkies de escola (os irmãos Ron e Scott Asheton e Dave Alexander) formou a banda The Stooges, "Os Patetas".
Nenhum deles era músico, mas carregavam consigo a ira adolescente e a vontade de fazer um som puro e simples (E precisa mais que isso no rock?). Eram diferentes do psicodélismo de sua época, do som progressivo, do uso de drogas lisérgicas e papos que defendiam a "ideologia" flower power.

As músicas do The Stooges eram vicerais, falavam do submundo das ruas americanas, era a filosofia junkie: beber muito, cair na sarjeta e dizer que a vida era um grande fracasso.
Suas apresentações eram estranhas para a época e Iggy Pop era uma grande novidade, um cantor um pouco fanhoso e desafinado que se contorcia e se machucava, deixando o palco coberto de sangue.

Danny Fields da gravadora Elektra, foi assistir a um show deles por indicação do grupo MC-5 (grupo lendário da cena underground dos anos 60) e não acreditou no que viu. Contratou os Stooges, que logo entram no estúdio com um importante colaborador, John Calle do Velvet Underground, que fez o que devia ser feito: deixou a banda quebrar tudo. Ron Asheton tirava das cordas de sua guitarra um som absolutamente brutal e animalesco, o baixo de Dave Alexander e a bateria de Scott Asheton eram destruidoras e nos vocais um dos maiores performers da época.

O primeiro álbum, de 1969, foi batizado de "The Stooges" apenas e marcou o começo do fim dos hippies utópicos. Com eles a música encontra sua redenção na simplicidade de quem não curtia ficar caminhando entre flores, de quem detesta a paz da vida no campo. Era o som urbano, dos subúrbios, era o rock puro e febril.

Muitos os chamam de pré-punk, mas podemos defini-los como punk rock já que se encontra aí o que tornaria, anos mais tarde, a verdadeira atitude punk. Músicas de três acordes, radicalismos, distorções e riffs que entraram para a história como "I wanna be your dog", "No Fun" e "1969". Estas músicas ganharam versões de grupos como Ramones, Sex Pistols, entre outros.

A banda ainda hoje faz inúmeros seguidores como o Sonic Youth que virá ao Brasil este ano no festival "Claro que é Rock" ao lado do próprio Iggy Pop e os Stooges em sua formação original (show este, aguardadíssimo pelos fãs).
The Stooges é discografia básica para qualquer um que curta o rock feito com convicção, espontaneidade e objetividade em sua forma simples. Graças a eles e a esse disco, sentimos algo realmente forte e substancial no rock, é o implacável rock entrando direto nas nossas veias, é de onde o rock jamais deveria ter saído: do subterrâneo...
Junior Bubys

 
Patti Smith: Rock e Poesia

Patti Smith nasceu em Chicago no ano de 1947, mas foi em Nova York que deu seus primeiros passos para o mundo das artes, trabalhando em vários projetos do meio como crítica musical e autoria de peças de teatro.
Por volta de 1971 ao declamar suas poesias em uma igreja acompanhada pelo violão de Lanny Kaye começou a despertar a atenção de artistas e conseguiu a publicação de dois livros de poesia (Seventh Heaven e Witt). Para melhor divulgar sua poesia formou uma banda com a qual fazia apresentações em bares da Big Apple.
Suas apresentações ao vivo eram poéticas e indisciplinadas, suas performances frenéticas no palco atraiam cada vez mais público a seus shows, mas não agradavam a crítica especializada. Mas para que serve essa tal "crítica especializada" se não para criticar, não é mesmo? Na maioria das vezes a "crítica" está ali somente para alimentar a indústria que pouco importa com movimentos e trabalhos artísticos que não lhes rendem como seus produtos simples, bobos, e de fácil compreensão para mentes menos discernidas, ou seja: massificados.

Seu primeiro disco intitulado Horses de 1974, foi produzido por John Cale que era baixista, pianista e violonista do Velvet Underground, banda de som cru e letras arrasadoras do vocalista Lou Reed. A semelhança estética entre Lou Reed e Patti, ambos músicos e poetas, cruza suas caminhadas, mostrando, em ambos, a influencia do poeta oitocentista francês Rimbaud no Punk Rock e provando que rock não é apenas música de adolescentes rebeldes. Contrariando aqueles que acham que apenas música clássica tem erudição.
Patti Smith com sua música, poesia, "loucura" e espontaneidade, tinha a química perfeita que o público do momento buscava. Transou androginia e todo tipo de transgressão às normas de conduta, colocando poesia na louca Nova York dos anos 70. Patti gritou que fora da sociedade era onde ela queria ficar (Rock-N-Roll Nigger) e que Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não os dela (Gloria). Vestiu-se de homem na capa de seu álbum de lançamento e aparece seminua na capa de seu terceiro álbum.
As pessoas procuravam letras densas, existencialistas e todo tipo de transgressão e por isso Patti fez enorme sucesso, tornando-se com o "Patti Smith Groupe", sua banda, uma importante influência até hoje.

Alguns caracterizam-na como uma sacerdotisa punk do teatro místico, outros a vêem como um xamã, uma espécie de mutação feminina de Jim Morrison e Bob Dylan, cantores e poetas também. Mas como ela mesma define seu som: "é não mais que rock de três cordas fundido ao poder das palavras".
Junior Bubys

New York Dolls - O Proto Punk

No começo dos nos 70 surgia o New York Dolls, Surge talvez uma das bandas mais divertidas e influêntes do no cenário pré-punk novaiquino.No princípio a banda começou como um tiração de sarro dos Rollig Stones até mesmo pela a aparência física de seu vocalista David Johansen com Mick Jagger. Os Dolls usavam roupas espalhafatosas e se apresentavam vestidos de mulheres como se fossem drag-queens, numa época que isso ainda era considerado transgressor.
Com apenas dois discos os Dolls construiram todo o alicerce que depois bandas como Talking Heads, Ramones e Blondie iriam usar para construir a fama da cena NY da época. Lipstick Killers, é a gravação mais antiga que se tem notícia do grupo. Lançado em cassete em 1972 o álbum traz nove músicas gravadas antes do primeiro disco oficial do quarteto, que, na época, era formado por David Johansen (vocais), Sylvian Saint (guitarra), Johnny Thunder (guitarra), Arthur Kane (baixo) e Billy Murcia (bateria).
Em músicas como "Personality Crisis", "Looking for a Kiss" e "Human Being", os Dolls capturavam a agressividade de Rolling Stones, The Who e embalavam com o visual descarado do glam rock. Tocavam em buracos nova-iorquinos como o Max's Kansas City e o CBGB's .

Logo após a gravação desse álbum, Murcia morreria de overdose de heroína, sendo substituído por Jerry Nolan. Atestado cru e sincero de uma época, Lipstick Killers nada mais é do que uma amostra sonora da revolução que iria se seguir nos próximos anos no rock'n'roll.
O New York Dolls chegou a ser empresariado pelo maior picareta da história do rock, Malcon Maclaren que os conheceu em sua primeira turnê pelo Reino Unido.O plano original era fazer com que o New York Dolls estourasse na Inglaterra. Para McLaren isso seria o máximo. Ele sabia que uma banda vigorosa amparada por uma boa estratégia de marketing promocional, atingiria em cheio uma juventude inglesa completamente entediada e sem perspectiva e que, na época, já ensaiava os primeiros acordes de uma pequena revolução.
Sua total falta de tato e a incapacidade de entender o que, realmente, queriam os integrantes do grupo Dolls, fez de sua primeira tentativa como manager tornar-se um verdadeiro fracasso. Malcon voltou a sua terra natal onde consegueria o feito com um tal de Sex Pistols.Os New York Dolls existiram por apenas seis anos (1971-77). Muito em muito pouco tempo, como diz o título do segundo e último disco, "Too Much Too Soon" (1974).
Em 1977, o rock não morreu com o New York Dolls, mas ficou um pouco menos... engraçado.
Junior Bubys

Historieta Rock'n Roll

Maldito para muitos, entretenimento para outros, besteira para tantos, empobrecimento da música para alguns, a manifestação última do capitalismo para os marxistas e liberdade de inventar para os que o amam. Assim nasceu, reproduziu e morreu por diversas vezes esse tal rock’n roll que sempre teima em voltar do além. Às vezes, retornam tal como foi embora.
O espírito libertário e revolucionário do rock’n roll, mais característico da segunda metade dos anos 60, influenciou minha leitura da primeira morte do rock’n roll. Não creio que Elvis, Jerry Lee, , Berry, Cocrhan, Vincent portassem, em seus pensamentos, ideais mais consistentes do que o sucesso e a intenção de comer muitas mulheres. Não havia uma causa a animar esta música. Pelo menos, não havia como houve em John Lennon, Brian Jones, Joan Baez, Bob Dylan, Jerry Garcia e etc.

O sentido transformador que a nova música trouxe, ao nascer, e que desagradou o establishment e que este tratou de pasteurizar, aconteceu apesar dos requebros do Elvis, da fúria do Little Richard. Foi, se puder convencer, na verdade, um fenômeno que a cultura do pós-guerra produziu. Pequenos detalhes na cultura desta época - desde o existencialismo de Sartre à literatura de Kerouc e Corso até os negros mortos nos campos de batalha europeus, passando pela experiência social soviética - mexeram com a consciência do mundo e com a consciência jeca, cínica e preconceituosa dos norte-americanos.
Nesta onda, o rock’n roll surfou. Nesta onda, o novo ritmo veio musicar a adolescência nascente. A adolescência aí recebeu a adição de características que a diferenciaram de qualquer outra época da história ocidental. Esta fase imprecisa da vida tornou-se mais prolongada e marcada por uma certa imbecilização justificada por pais e educadores.
Em suma, o sentido transformador do rock’n roll em seus primórdios foi pavimentar, junto ao cinema e à televisão, o caminho para o estabelecimento de uma diferença entre o jovem, a criança e o adulto. Começar a constituir o tal conflito de gerações que, certamente, não teve similar na história da cultura. Não que essa expressão estivesse ausente dos relatos, bem como a expressão "a luta do velho contra o novo". A literatura, e as tendências estéticas que a animaram, revela com clareza o que digo. Que a geração realista tenha desenvolvido uma estética que se conflitou com a da geração simbolista é fato. Que os poetas simbolistas eram mais jovens do que os realistas é uma obviedade. Tal diferença estética pode merecer a denominação de "um conflito de gerações". Todavia, uma descrição a anos-luz do conflito de gerações a partir dos anos 50.

Neste último, que contou com o rock’n roll em um vértice, tratava-se, sim, de diferenças estéticas, morais e ideológicas, mas não em debates culturais, acadêmicos ou literários. Os debates passaram a ocupar cada lar, cada laço entre os mais velhos e os mais jovens. O direito a divergir estava estabelecido. Mesmo que Berry, Presley ou Cochram nada soubessem a este respeito e apenas queriam se divertir.
Se pareciam rebeldes, se rebeldes efetivamente fossem, a rebeldia, certamente, não tinha uma causa.
Junior Bubys